Um jogo clássico entre Brasil e Argentina precisa ter três fatores: dribles marotos, defesas insanas e muita, muita catimba. E foi o que aconteceu no Estadio Bicentenario Municipal de La Florida, região leste de Santiago, no Chile. A Seleção Brasileira de Paralisados Cerebrais enfrentou os Hermanos e representou com maestria o país do futebol. O Brasil é pentacampeão Parapan-Americano com gol na prorrogação num placar enxuto de 1 a 0.
A campanha até o título foi ostensiva, ganhando todas as partidas disputadas, com vinte e cinco gols a favor e apenas dois gols sofridos. Um, contra a própria Argentina, no primeiro jogo, placar acirrado de 2 x 1. O outro gol foi do Canadá, contra onze vezes no gol deles, é isso mesmo, placar de 11 x 1. Os outros jogos foram contra os Estados Unidos, 2 x 0, contra o Chile, 4 x 0 e Venezuela, 5 x 0.
Essa conquista não vem fácil. Por não estar presente no programa dos Jogos Paralímpicos, a modalidade não recebe a verba da Lei Agnelo Piva [que estabelece que 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país sejam repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Do total de recursos repassados, 85% são destinados ao COB e 15%, ao CPB]. O orçamento nulo restringe a ANDE, entidade gestora, mas não limita. Com o apoio irrestrito do CPB, e corrida constante atrás de patrocínios e parcerias, o calendário nacional de competições sobrevive em duas divisões, times de todo o país e muito talento em campo. “Final com a Argentina sempre será eletrizante! As dificuldades continuam com o Futebol PC fora do programa Paralímpico, mas seguimos persistindo e sustentando nossa promessa de não abandonar a modalidade. Tivemos algumas conversas com a APC e, também, o IPC sobre a permanência do Fut PC no próximo Parapan e as perspectivas são boas! Os resultados acontecem pelo excelente trabalho da comissão técnica e a garra e determinação dos atletas, incansáveis na busca pela excelência” resume o presidente Artur Cruz direto do campo de Santiago, emocionado após a conquista.
Mas então o que faz desse time tão especial? O caminho que cada um percorreu até chegar ali? Talvez. Pode ser a história do menino Cesinha, autor do gol da final, já com bicampeonato nas costas. Pode ser o caminho do Jefferson Cardoso, que saiu da pequena cidade paranaense de Assis Chateaubriand para espalhar os sorrisos por aí. Pode também ser do xará, Jefferson Luiz, que tombou num trio elétrico em uma comemoração pelo acesso a série A do futebol convencional, causando danos cerebrais mas futebol intacto. Segundo o capitão do time, o goleiro Moacir, não é só a experiência de seus anos na seleção, nem só a renovação e juventude como a do Ângelo, que provocou o gol para finalização do amigo, tampouco só o empenho dos gestores ou só a torcida que não perde nenhum jogo. “O que temos de especial? Todos nós temos o que nenhum outro país do mundo tem: um coração brasileiro. Não desistimos.”
Brasil, o país do Futebol PC.
Fotos disponíveis no Flickr do CPB e no Archivo Digital de Santiago 2023
Sobre a modalidade
A partir de janeiro de 2018, a classificação funcional passou a dividir os atletas do futebol PC para paralisados cerebrais em três novas classes funcionais: FT1, FT2 e FT3. Estas novas classes levam em consideração os graus de comprometimento dos atletas já que dentro de cada uma delas existe uma grande variação no impacto nas performances dos mesmos. Na regra atual, é obrigatório que exista sempre ao menos um atleta da classe FT1 em campo. Caso não seja possível, o time deve jogar com seis ou cinco jogadores. Cada equipe só pode contar com, no máximo, um atleta da classe FT3 em campo, durante toda a partida.
De acordo com o grau da paralisia, os atletas são classificados em: FT1 – comprometimento leve, FT2 – comprometimento moderado, FT3 – comprometimento severo.
O jogo tem dois tempos de 30 minutos.
Expediente
Comunicação ANDE
comunicacao@ande.org.br
Grazie Batista – 21 97462-0382